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Calendário científico outubro 2024

Monitorização de DAPT utilizando LTA

Como pode utilizar a LTA (agregometria por transmissão de luz) para monitorizar eficazmente a DAPT (terapia antiplaquetária dupla)?

Determinar a agregação máxima de plaquetas em % a partir de uma única concentração de agonista do ácido araquidónico

Determinar o TP em INR

Determinar a pontuação APAL e CPAL

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Informação científica de suporte

Atualmente, existem muitas ferramentas disponíveis que ajudam na avaliação da função plaquetária. O método mais estabelecido e conhecido é a agregometria por transmissão de luz (LTA) segundo Born. Este método de medição foi desenvolvido em 1963 e é o método padrão para investigações sobre doenças hereditárias da função plaquetária. [1, 2] A medição baseia-se numa alteração da transmissão de luz do plasma rico em plaquetas devido à ativação e agregação das plaquetas após a adição de um agonista plaquetário. [1] Embora limitado pelas orientações apenas para fins de investigação, o LTA também pode ser utilizado para monitorizar a terapia antiplaquetária. [3]

A terapia antiplaquetária dupla com clopidogrel ou outro inibidor P2Y12 e aspirina demonstrou ser uma estratégia de tratamento estabelecida e recomendada pelas orientações para o tratamento de doentes com doença cardiovascular. Sabe-se que o efeito farmacológico dos medicamentos antiplaquetários varia entre indivíduos. Está descrito que muitos indivíduos não respondem ao clopidogrel devido a polimorfismos no gene CYP2C19. [4–6] O efeito antiplaquetário da aspirina é reduzido em doentes com a chamada ‘resistência à aspirina’ devido a polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) que afetam a COX-1 e a função plaquetária, inflamação e síndrome metabólica. [7–9]

Nos últimos anos, o método LTA tornou-se mais padronizado graças a analisadores de coagulação totalmente automatizados CS-Series (exceto CS-1600) e CN-Series (todos da Sysmex Corporation, Kobe, Japão), que reduzem significativamente a intervenção manual pelo operador, melhorando a precisão e repetibilidade dos resultados.

Tabela 1 LTA utilizando um analisador semi-automático vs. analisadores das CS-Series e CN-Series 

Semi-automático Passos de operação CN-/CS-Series​
Manual​ Colheita e preparação manual da amostra de sangue Manual
Manual​ Preparação manual da cuvete de agitação Minimizado
Manual​ Dispensa da amostra Automatizado
Manual​ Diluição do agonista Automatizado*​
Manual​ Dispensa do agonista Automatizado
Automatizado Deteção da agregação Automatizado
Automatizado Saída de resultados Automatizado

* apenas CN-Series

A interpretação dos resultados das medições de LTA exige um elevado grau de especialização. Devem ser incluídos na avaliação de casos individuais diversos resultados numéricos e a progressão da curva. Nos últimos anos, estas condições limitaram a utilização do LTA na monitorização da terapia antiplaquetária dupla (DAPT). Para resolver este problema e facilitar a interpretação dos resultados, foi desenvolvido o método de duas concentrações de agonista para os analisadores da CS-Series e da CN-Series. [10] Neste método, amostras dos doentes são medidas com duas concentrações de um agonista sensível à aspirina e de um agonista sensível ao inibidor de P2Y12. Os resultados das duas concentrações são traduzidos numa pontuação, o nível de agregação plaquetária (PAL). Esta pontuação pode ser utilizada para estimar se a DAPT é suficientemente eficaz ou se o doente pode necessitar de um ajuste da terapêutica. O PAL é uma função adicional do analisador e utiliza os agonistas plaquetários ADP como agonista sensível ao inibidor de P2Y12 e colagénio como agonista sensível à aspirina. O PAL induzido por ADP (APAL) é calculado a partir dos resultados de medição em concentrações de 1 µM e 10 µM, e o PAL induzido por colagénio (CPAL) a partir dos resultados de medição em concentrações de 1 µg/ml e 5 µg/ml. Tanto o APAL como o CPAL são calculados utilizando a área sob a curva (AUC). [11-13]

As pontuações podem variar de 0 a 10. Valores de pontuação PAL mais elevados indicam níveis mais altos de agregação plaquetária, sugerindo uma resposta fraca ou ausente à DAPT, enquanto valores mais baixos de pontuação PAL indicam níveis mais baixos de agregação plaquetária, sugerindo uma resposta adequada à DAPT. [14]

Estudos sobre as pontuações PAL em analisadores CS-Series e CN-Series revelaram uma imprecisão inferior a 5% em amostras tratadas com aspirina (CPAL) ou com o inibidor de P2Y12 cangrelor (APAL) num analisador CN-Series, e inferior a 10% para amostras tratadas com cangrelor (APAL) e inferior a 5% em amostras tratadas com aspirina (CPAL) num analisador CS-5100. Os resultados PAL correlacionam-se bem entre ambas as séries de analisadores, como apresentado na Tabela 2. [14, 15]

Tabela 2 Correlação entre CN-6000 e CS-5100

Agonista Concentração N Coeficiente T  
ADP 1 µM 85 0,988  y = 1,00x + 3,85
  10 µM 85 0,955 y = 0,89x + 11,44
  Pontuação APAL 85 0,971 y = 0,91x + 0,94
Colagénio 1 µg/mL 82 0,996 y = 1,02x - 0,83
  5 µg/mL 82 0,972 y = 0,99x + 0,66
  Pontuação CPAL 82 0,994 y = 1,00x - 0,08

Outros estudos demonstraram uma sensibilidade melhorada do sistema PAL em comparação com a utilização convencional do LTA sem um sistema de pontuação. Verificou-se que a pontuação PAL reduziu a variabilidade no mesmo sujeito e demonstrou ser mais fiável para medir a eficácia dos medicamentos antiplaquetários do que a agregação máxima de plaquetas em % numa única concentração de agonista. [16]

Estão atualmente em curso mais investigações para estabelecer valores de corte para a monitorização da terapia antiplaquetária utilizando a pontuação PAL, que idealmente reduzirá significativamente a recorrência de eventos trombóticos durante o tratamento.

Referências

[1] Born GV. (1962): Aggregation of blood platelets by adenosine diphosphate and its reversal. Nature. 194: 927–929.

[2] Kang J, Park KW, Palmerini T, et al. (2019): Racial Differences in Ischaemia/Bleeding Risk Trade-Off during Anti-Platelet Therapy: Individual Patient Level Landmark Meta-Analysis from Seven RCTs. Thromb Haemost. 119 (1): 149–162.

[3] Cattaneo M, Cerletti C, Harrison P, Hayward CPM, Kenny D, Nugent D, Nurden P, Rao AK, Schmaier AH, Watson SP, Lussana F, Pugliano MT, Michelson AD. (2013): Recommendations for the standardization of light transmission aggregometry: a consensus of the working party from the platelet physiology subcommittee of SSC/ISTH. J Thromb Haemost; 11:1183–1189.

[4] Cattaneo M. (2010): New P2Y(12) inhibitors. Circulation. 121 (1): 171–179.

[5] Bonello L, Tantry US, Marcucci R, et al. (2010): Consensus and future directions on the definition of high on-treatment platelet reactivity to adenosine diphosphate. J Am Coll Cardiol. 56 (12): 919–933.

[6] Tantry US, Bonello L, Aradi D, et al. (2013): Consensus and update on the definition of on-treatment platelet reactivity to adenosine diphosphate associated with ischemia and bleeding. J Am Coll Cardiol. 62 (24): 2261–2273.

[7] Colantonio LD, Gamboa CM, Kleindorfer DO, et al. (2016): Stroke symptoms and risk for incident coronary heart disease in the REasons for Geographic And Racial Differences in Stroke (REGARDS) study. Int J Cardiol. 220: 122–128.

[8] Cattaneo M. (2007): Resistance to antiplatelet drugs: molecular mechanisms and laboratory detection. J Thromb Haemost. 5, Suppl 1: 230–237.

[9] Cattaneo M. (2004): Aspirin and clopidogrel: efficacy, safety, and the issue of drug resistance. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 24 (11): 1980–1987.

[10] Matsuo T, Ohki Y. (1977): Classification of platelet aggregation patterns with two ADP solutions (the double-ADP method) and its clinical application to diabetes mellitus. Thromb Res. 11 (4): 453– 461.

[11] Sakayori T, Watanabe Y, Kitano K, et al. (2019): Evaluating the Utility of a Novel Research Use Index in Platelet Aggregation Analysis Featured in an Automated Blood Coagulation Analyzer to Confirm the Effect of Antiplatelet Drugs. Sysmex J Int. 2019; 29 (1): 39–47.

[12] Omori Y, Ishida H, Sakayori T, et al. (2019): Evaluation of Fully Automated Blood Coagulation Analyzer Equipped with a Novel Analysis Method – Antiplatelet Responsive Index –. Rinsho Byori. 67 (3): 205–211.

[13] Sadakata T, Sakayori T, Watanabe Y, et al. (2018): Basic Evaluation of PAL Which is a Research Use Index for Confirming the Effect of Antiplatelet Drugs Installed in the CS Series and Comparison Study with the Index Installed in Existing Instrument. Sysmex J. 2018; 19 (2): 1–10.

[14] Sakayori T, et al. (2024): Analytical Evaluation of Platelet Aggregation Level on a Fully Automated Coagulation Analyzer CN-6000, and a Case Study of an Initial Absorbance of Platelet-rich Plasma. Sysmex Journal International Volume 34 No.1. Published 12 June 2024.

[15] Shimizu M, et al. (2019): Evaluation of a new analysis index of platelet aggregation test using CS-5100 with G-Type on a PRP313M. Japanese Journal of Medical Technology, Volume 68, Issue 3, Pages 501–506.

[16] Lecchi A, Capecchi M, Padovan L, Artoni A, Arai N, Shinohara S, La Marca S, Peyvandi F. (2024): Evaluation of an automated platelet aggregation method for detection of congenital or acquired platelet function defects. Blood Transfus. 22(4):350–359.

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